Paladar peculiar – Por Arthur Shinoda

Santa Clarita Diet é uma série de comédia & horror Original Netflix criada por Victor Fresco (roteirista especialista em comédia) que conta a história de como a família Hammond viu sua rotina mudar graças a um acontecimento deveras estranho. Talvez seja a palavra que mais se aproxime pra definir como a Sheila (personagem da Drew Barrymore) passa a ter comportamentos canibais afetando além de sua vida também de todos em sua volta e esse é o fio que conduz a trama dessa série.

Compondo o elenco temos o Timothy Olyphant no papel do Joel Hammond, marido e fiel escudeiro de sua esposa pirada; Liv Hewson vivendo a Abby Hammond (filha de Sheila e Joel); Mary Elizabeth Ellis dá vida a Lisa Palmer, uma personagem com hormônios à flor da pele – se é que você me entende – vizinha do casal e mãe do Eric Bemis (Skyler Gisondo), o vizinho nerd e amigo da Abby, personagem que é claramente o responsável por um humor mais “inocente”, pelo fato de não levar o mínimo jeito com as mulheres e ser inseguro em quase tudo o que faz, entrega cenas constrangedoras e vez ou outra faz comparações que são referências à cultura pop, destoando um pouco de toda ironia e sarcasmo que a série tem como essência.

Santa Clarita é uma cidade do Condado de Los Angeles localizada no estado da Califórnia e é dela o nome que dá título à série. A trama vai se desenvolvendo e o que era uma necessidade para a Sheila passa a ser um prazer. Nisso, Joel tem que se virar como pode pra não ter em casa uma esposa sedenta por sangue e vísceras, e ainda por cima encobrir os vestígios e despistar os vizinhos, que estão são sempre atenciosos – até demais – ao que acontece nas redondezas.

O arco de história dos protagonistas se subdivide entre a vida normal do casal, a busca por respostas da causa dessa “doença” e a caça por humanos que tenha justificativa para serem mortos e aí entra em um ponto que é muito bem trabalhado, que são os princípios morais. Devido aos acontecimentos insanos vividos pela família, naturalmente ocorre uma mudança nos valores éticos por parte de todos que convivem com a protagonista, ao questionar qual seria o perfil ideal de pessoa que deve ser morta para satisfazer a necessidade da Sheila, o roteiro ultrapassa o limite do que é certo e errado para nós, banalizando o ato de tirar vidas de maneira absurda, mas que funciona dentro do contexto da série.

A segunda temporada traz ainda personagens novos que tornam a trama mais complexa. Uma dupla misteriosa que buscam informações sobre pessoas com comportamentos canibais. Eles dão um tom de mistério e a dinâmica entre eles dois funciona bem, apesar do pouco tempo de tela que tem. E pra dar um tempero ainda mais tenso – e cômico (dependendo do lado que se observe) – à trama aparece a Anne (Natalie Morales), uma nova vizinha com quem a Sheila faz amizade. Ela é policial da divisão de investigação de homicídios e cria uma obsessão pelos misteriosos casos que vem acontecendo em Santa Clarita, assim decide seguir o padrão e montar sua linha investigativa, o que obviamente incomoda o casal protagonista que tenta a todo custo persuadir ela a desistir dessa ideia, e é nessa parte o roteiro se mostra genial, pois utiliza das brechas deixadas para motivar ainda mais a policial Anne a seguir sua investigação. Esses novos personagens parecem estar ali em vão, mas o roteiro é tão bem desenvolvido que faz as linhas narrativas dos arcos desses novos personagens convergirem com a narrativa principal paulatinamente e quando a gente menos percebe é pego de surpresa.

Mas devo frisar alguns adendos: Não recomendo essa série pra quem tem estômago fraco ou trauma em ver de sangue. A classificação indicativa +16 permite que a série possa ir além, em alguns momentos sendo verdadeiramente gore – sub-gênero cinematográfico do horror, que é caracterizado pela presença de cenas com muito sangue, vísceras e restos mortais de humanos ou animais – causando repugnância e um choque visual ao expectador, que pode chegar desavisado e ser surpreendido pela “propaganda enganosa” que a Netflix faz ao divulga-la.

E justo por causa de toda essa ambientação maluca, as piadas intrínsecas nos diálogos são extremamente ácidas e pra funcionar o expectador deve ter um pouco de malícia, digamos, e até pros mais acostumados com humor negro vai ter momentos em que você vai se pegar sorrindo com certo remorso se questionando se deveria realmente estar achando graça daquilo que ouviu.

É “chover no molhado” falar bem da Drew Barrymore né?! A mulher tem um carisma sensacional além de ser muito talentosa. Depois de filmes de comédia mais família, ela dá um “up” em sua carreira com essa série, ela se sente plenamente confortável imersa em um humor mais rebuscado e ácido. Quem melhor do que ela poderia fazer uma personagem tão bipolar e cínica parecer espontânea?! O fato de a Sheila poder avançar a qualquer instante na garganta de alguém dá uma imprevisibilidade hilária à série, que flutua de um momento tenso ou romântico para um non-sense ou hilário – dependendo do seu ponto de vista – com enorme facilidade.

No mais, Santa Clarita Diet é uma pedida certa de diversão para aqueles expectadores mais exigentes do gênero de humor, que não se intimida em ver corpos desmembrados ou um órgão claramente exposto e se deixa envolver com estes personagens. Uma série que não permanece na monotonia, repleta de reviravoltas das mais surpreendentes e me proporcionou boas gargalhadas como poucas coisas são capazes de fazer.

CARIRI EM AÇÃO

POR ARTHUR SHINODA /Foto: Reprodução Internet

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