Governo Bolsonaro nomeia novos presidentes para Funarte e Biblioteca Nacional

O governo Bolsonaro nomeou nesta segunda-feira (2) novos presidentes para a Funarte (Fundação Nacional de Artes) e a Biblioteca Nacional, seguindo uma reforma volumosa no quadro da Secretaria Especial da Cultura e órgãos subordinados à subpasta do Ministério do Turismo, hoje sob comando do dramaturgo e diretor Roberto Alvim.

As decisões foram publicadas no Diário Oficial da União.

Nomeado para estar à frente da Biblioteca Nacional, Rafael Alves da Silva, conhecido como Rafael Nogueira, é um nome próximo ao movimento conservador brasileiro e simpático ao grupo monarquista. 

Em sua conta no Twitter, na qual tem mais de 40 mil seguidores, o seguidor de Olavo de Carvalho se autoproclama “aspirante a filósofo e a polímata”, declara apoio a Jair Bolsonaro e compartilha críticas ao MBL (Movimento Brasil Livre).

Em entrevista à Folha de S.Paulo em outubro deste ano, Nogueira disse que não há partido conservador no país -incluindo o PSL, cujo surgimento ele descreveu como um “arranjo de momento” e um “improviso à direita desamparada”.

Na época em que Glenn Greenwald foi agredido ao vivo pelo jornalista Augusto Nunes, Nogueira defendeu Nunes nas redes sociais e compartilhou hashtags como #AugustoNunesHeroi. 

Ele assume o lugar de Helena Severo, que colocou o cargo à disposição na sexta (29) por uma carta ao secretário Roberto Alvim. “Essa é uma instituição bicentenária com mais de 400 servidores. Qualquer governo tem o direito de trocar cargos de confiança a qualquer momento. Mas não concordo com a forma como isso tem se dado”, disse ela à reportagem.

Maestro e doutor em música pela Universidade Estadual de Londrina, Dante Henrique Mantovani foi nomeado presidente da Funarte. Em seu site oficial, ele afirma ter participado de grupos como o Coro Sacro da Paróquia Nossa Senhora da Paz, além de corais religiosos da Igreja Católica.

Além disso, Mantovani apresentou o programa “A Grande Música”, na rádio Mão de Deus, de Caxias do Sul (RS), e dá palestras em instituições como a Academia Militar das Agulhas Negras. No Facebook, o maestro postou um vídeo em que rege um coral, junto com o texto: “canto gregoriano em latim para crianças, é nisso que acredito”. Ele substitui Miguel Proença, exonerado em novembro.

Já na quarta (27), outros seis nomes foram nomeados para cargos na secretaria. Chegam ao governo secretários responsáveis pela promoção de diversidade cultural, de fomento e incentivo à cultura (à frente da Lei Rouanet), de economia criativa e da Fundação Palmares, além de um secretário adjunto especial. 

OS RECÉM-NOMEADOS

Katiane Gouvêa
Membro da Cúpula Conservadora das Américas, assumiu a Secretaria do Audiovisual. Seu nome é associado a documento que fez Bolsonaro cogitar extinguir a Ancine. Em reunião, defendeu a ‘valorização do belo e da arte clássica’

Reynaldo Campanatti Pereira
O novo secretário da Economia Criativa é doutor em história econômica pela USP e professor de ensino superior. Paulista, foi candidato a deputado federal pelo Patriota, mas não foi eleito

José Paulo Soares Martins
Após liderar a secretaria de Fomento e Incentivo à Cultura, assume como secretário especial adjunto da Cultura. Entrou para o governo na gestão Temer. É ex-diretor do Instituto Gerdau e da Fundação Iberê Camargo

Sérgio Nascimento de Camargo
‘Negro de direita, contrário ao vitimismo e ao politicamente correto’, como ele se define em seu perfil nas redes sociais, é o novo presidente da Fundação Palmares, responsável por promover a cultura de matriz africana. Ele é filho de escritor e militante do movimento negro.

Camilo Calandreli
À frente da Secretaria de Fomento e Incentivo à Cultura, se define como cristão, conservador e seguidor de Olavo de Carvalho. É formado em música pela USP e já disse que a Lei Rouanet era usada pelo ‘marxismo cultural’

OS QUE JÁ FORAM EMPOSSADOS

Roberto Alvim
Nomeado como secretário da Cultura, subpasta que substituiu o ministério extinto, o diretor teatral chegou a chamar a atriz Fernanda Montenegro de ‘sórdida’ e convocou, nas redes sociais, ‘profissionais conservadores’ para ‘criar uma máquina de guerra cultural’

Edilásio Barra
Conhecido como Tutuca, o apresentador, pastor e colunista social chegou a ser cogitado para assumir a Secretaria do Audiovisual, mas assumiu a Superintendência de Desenvolvimento Econômico da Ancine, com a tarefa de gerir os recursos do Fundo Setorial do Audiovisual

Letícia Dornelles
A roteirista e atriz assumiu a presidência da Fundação Casa de Rui Barbosa, responsável por manter acervo de intelectuais e escritores de destaque no país, e foi criticada por não ter perfil acadêmico nem ter sido indicada pelos funcionários do órgão.