Pesquisadores do MIT desenvolvem pílula anticoncepcional de dose única

As pílulas anticoncepcionais funcionam bem se a mulher se lembra de tomar o comprimido diariamente. Doses esquecidas podem significar uma gravidez indesejada. Mas, agora, cientistas descobriram como colocar a dose em uma cápsula que deve ser ingerida uma vez ao mês.

O truque? Um dispositivo em formato de estrela que se abre no estômago e libera a susbtância gradualmente.

Levará ainda alguns anos para que a cápsula experimental chegue às farmácias, mas os pesquisadores afirmaram esta semana que ela funcionou nos primeiros testes em animais. 

A Fundação Bill e Melinda Gates investe US$ 1,3 milhão no desenvolvimento da pílula mensal na esperança de que ela se torne mais uma opção de planejamento familiar nos países em desenvolvimento.

— A pílula mensal tem muito potencial — diz a Dr. Beatrice Chen, especialista em planejamento familiar da Universidade de Pittsburgh, que não está envolvida nas pesquisas. — A contracepção não é a mesma para todas. As mulheres precisam de mais opções.

Hoje, as mulheres que querem contraceptivos de longa duração têm várias opções à disposição, do adesivo semanal ao DIU hormonal que deve ser trocado a cada três anos, passando pelo anel vaginal mensal.

Como comprimidos são digeridos pelo corpo humano em apenas um dia, até hoje não havia sido cogitada uma pílula mensal.

A equipe do pesquisador Robert Langer no Massachussetes Institute of Technology desenvolveu uma maneira de proteger os comprimidos do ambiente agressivo do sistema digestivo.

— Desenvolvemos esse sistema que parece uma estrala do mar e que pode ficar no estômago por muitos dias, semanas e até mesmo um mês — conta o Dr. Giovanni Traverso do Hospital Brigham, de Boston, um dos autores do estudo.

O dispositivo tem seis braços e cada um deles contém uma quantidade de medicamento. A estrela fica dentro de uma cápsula comum. Quando os ácidos do estômago dissolvem a cápsula, a estrela se abre. Ela é muito grande para passar pela saída do estômago, mas não é grande o suficiente para causar uma obstrução. Conforme a medicação se dissolve em cada um dos braços, o dispositivo se quebra e passa pelo sistema sigestivo.

As equipes de Robert Langer e de Giovanni Traverso usaram a tecnologia pela primeira vez para tentar transformar medicamentos para malária e para o HIV em cápsulas que duram uma ou duas semanas. Estas também são experimentais, mas as pílulas de longa duração podem ajudar pacientes com doenças sérias a seguir o tratamentno.

A próxima tentativa lógica? A pílula anticoncepcional de longa duração.

Primeiro, eles tinham que adaptar o dispositivo em forma de estrela. Fizeram com que ele ficasse mais forte e recorreram aos materiais usados nos implantes contraceptivos para guardar os hormônios e fazer com que eles fossem liberados gradualmente.

Então os pesquisadores testaram as cápsulas anticoncepcionais em porcos, que têm sistemas digestivos similares ao humano. As cápsulas experimentais liberaram o contraceptivo de forma consistente por até quatro semanas, e a quantidade medida na corrente sanguínea dos porcos era a mesma liberada pelas pílulas comuns.

A Lyndra Therapeutics Inc., a empresa de Massachusetts fundada por Langer e Traverso, trabalho no desenvolvimento da pílula mensal e em outros usos para a tecnologia.

Para que seja útil, a cápsula deverá ser desenhada para liberar três semanas de hormônios e então permitir que a mulher menstrue, como fazem as pílulas anticoncepcionais — isso seria como um alerta para a mulher de que está na hora de tomar uma nova dose.

Mais testes de segurança são necessários antes de a pílula mensal ser testada em mulheres. É preciso confirmar se a cápsula experimental realmente se desfaz para passar pelo sistema digestivo e também saber qual a dose adequada dos diferentes hormônios. Também é preciso saber se o dispositivo de desfaz da mesma maneira em pessoas diferentes.

Se a tecnologia for aprovada, um possível uso futuro é a combinação, em um mesmo dispositivo, de contraceptivos e medicamentos para o HIV — uma ideia a ser usada em países em que as mulheres estão sob risco maior de contrair o vírus da AIDS.