Recuo no diesel dá prejuízo de R$ 14 milhões por dia à Petrobras

O recuo no reajuste do preço do diesel representa uma redução de receita para a Petrobras de aproximadamente R$ 14 milhões por dia, considerando o volume médio de vendas do combustível em 2018. Representantes do setor de combustíveis dizem que a interferência prejudica a atração de investimentos.

O cálculo das perdas foi feito pela Abicom, entidade que representa as empresas importadoras de combustíveis, e considera que a Petrobras deixará de arrecadar R$ 0,123 por litro vendido após o recuo. O reajuste, de 5,7%, elevaria o preço de R$ 2,1432 para R$ 2,2662.

Em 2018, o país consumiu 42 bilhões de litros de diesel, uma média de 3,5 bilhões de litros por mês. Assim, ao abrir mão dos R$ 0,123 por litro, a Petrobras está deixando de arrecadar R$ 430 milhões por mês. O governo não deixou claro por quanto tempo manterá os preços congelados.

O valor atual vem sendo praticado desde o dia 22 de março. No dia 26, a Petrobras anunciou alteração em sua política de preços, estabelecendo o prazo mínimo de 15 dias para reajustes. Na quinta (11), o 16º dia após o anúncio, decidiu aumentar o preço em 5,7%.

Na manhã desta sexta (12), o vice-presidente Hamilton Mourão confirmou que o recuo anunciado na noite anterior foi feito por determinação do presidente Jair Bolsonaro -que já havia admitido pressão também pela mudança na política de preços anunciada em março.

“A intervenção do governo na Petrobras está declarada”, diz o presidente da Abicom, Sérgio Araujo. “A prática de preços predatórios acaba com o mercado competitivo, reforça o monopólio e prejudica a sociedade”, completa o executivo.

Desde o segundo o início do programa de subvenção ao preço do diesel, no fim de maio de 2017, as empresas importadoras reduziram suas atividades no país. Em novembro, a Raízen, que opera com a marca Shell, anunciou corte de R$ 2 bilhões em investimentos para trazer produtos do exterior.

“Todo mundo fica assustado, dá um passo para trás”, afirmou o presidente da Plural (que representa as distribuidoras), Leonardo Gadotti. “É frustrante. A gente vinha, de maneira geral, no caminho certo para ter um mercado mais aberto e atrair investimentos”, comentou.

Ele avalia que a decisão tem efeitos no interesse de investidores sobre ativos do setor, em um momento em que o governo e a própria Petrobras falam em quebra do monopólio da produção de combustíveis, com a venda de refinarias da Petrobras.

“O governo trata a questão de maneira equivocada”, critica, dizendo que o preço de refinaria do diesel representa cerca de metade do valor final de bomba -o restante é composto por impostos, margens e biodiesel. Desde o início do ano, diz, o diesel subiu 17,8% nas refinarias e o repasse às bombas foi de 3,3%.