Aos 72 anos, hipertenso, o aposentado José Severino da Silva reclama no banco da praça ao lado de outros moradores de Esperança, a 160 quilômetros de João Pessoa.
Há semanas, o assunto na cidade é o decreto municipal 1.874/2018, que determinava a suspensão de parte dos serviços de saúde da cidade de 33 mil habitantes até 15 de janeiro. A medida foi cancelada após o Ministério Público (MP) da Paraíba ameaçar ingressar com ação civil pública contra a Prefeitura.
Citando dificuldades financeiras, servidores anunciavam aos pacientes que procuravam os serviços de saúde que o atendimento havia sido interrompido. E apesar de a prefeitura ter recuado oficialmente, a reportagem viu moradores serem dispensados e orientados a voltar no ano que vem.
A população não pode ficar sem assistência à saúde. Por isso tomamos as providências necessárias e comunicamos a posição do MP, para que a prefeitura não executasse o que estava no decreto, sob pena de entrarmos com ação. Até onde sabemos, o decreto foi revogado, mas continuamos em alerta para qualquer alteração.
Cortes em Esperança
4 médicos para 33 mil habitantes
Antes mesmo de o decreto entrar em vigor, quem chegava às unidades de saúde de Esperança na primeira quinzena de dezembro era avisado da interrupção dos serviços.
Os funcionários informavam que o atendimento seria concentrado no complexo hospitalar do município, onde há quatro médicos para toda a cidade.
Quando soube da decisão, a dona de casa Maria de Fátima Paulino, 59, lamentou ter que ir para longe para receber o acompanhamento mensal de que precisa.
“Aqui falta médico há dois, três meses. Agora vão fechar as unidades de saúde. O que era ruim, agora deve piorar”, declarou.
As insatisfações sobre o fechamento das unidades de saúde se tornaram o principal assunto no município.
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Zé Severino, 72, aposentado
É um absurdo uma coisa dessas. Tenho que ir todo dia ao posto ver a pressão e pegar o remédio. Agora, dizem pra ir até o hospital longe de casa.
Imagem: José Rodrigues/UOL
Aluísio Lins, 52, motorista
Infelizmente, a gente tem que tirar do pouco que ganha para ter acesso à saúde. Se não for assim, a gente morre, e o atendimento não vem.
Há 25 anos trabalhando na prefeitura, a técnica de enfermagem Maria Vera Lima disse estar “de mãos atadas”.
Ela relata que os pacientes voltam para casa desalentados com a informação do fechamento das unidades. “Infelizmente é o que temos a dizer. A população está prejudicada. Por dia, são mais de 20 pessoas que mandamos voltar. Os consultórios estão vazios”, disse.
Após procurar médico na unidade de saúde mais próxima e ser enviado de volta para casa, Firmino da Silva, 94, pediu ao menos que os funcionários aferissem sua pressão arterial. “A gente nem sabe o que dizer, ainda bem que tenho saúde”, disse à reportagem, enquanto a técnica verificava seus sinais vitais.
Outro lado
“A população não ficará desassistida. Todos os atendimentos continuarão no complexo hospitalar, inclusive em horário ampliado. A logística favorece a assistência”, afirmou.
Passos disse ainda que atualmente o município só conta com quatro médicos. “Muitos profissionais migraram para o programa Mais Médicos. Se a prefeitura mantivesse as unidades abertas, apenas quatro comunidades seriam beneficiadas. Por isso decidimos deslocar os médicos para o complexo, para que todos os moradores sejam atendidos. Pensamos em uma melhor abordagem para esse período no qual as unidades estarão fechadas”, afirmou.