Arthur Virgílio engrossa contra Alckmin e alfineta FHC: ‘Ele errou sobre Huck’

O PSDB está perdido. Esta é a análise que pode ser feita de acordo com o discurso do prefeito de Manaus, Arthur Virgílio (PSDB). O tucano, que tem interesse em disputar as prévias do partido com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, para concorrer à Presidência, acredita que o partido deve recuperar a imagem.

Em entrevista ao HuffPost Brasil, o tucano reitera que o partido voltar a ser o que era. “Acho que o partido leva muito a sério cada eleição e não tem conseguido êxito. Talvez se eles levassem a sério o seu programa, talvez ele pudesse ganhar eleições”, critica.

A legenda que terminou as eleições de 2014 em segunda lugar, com a menor diferença histórica para o primeiro lugar, de três milhões de votos, chega a 2018 em um cenário de incerteza.

Pesquisa interna do PSDB mostra que três em cada brasileiros não acreditam que o partido será capaz de eleger o próximo presidente, como mostra a Folha de S.Paulo. Sondagem encomendada pelo DEM, em setembro do ano passado, indica o mesmo índice de rejeição ao PSDB, 75%.

Neste cenário, a aposta do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso no apresentador Luciano Huck para a disputa presidencial é considerada um erro por Virgílio.

“Isso sugere duas coisas: 1. erro político grave do Fernando Henrique ou 2. a intenção de alguns aproveitadores, o que não se aplica ao Fernando Henrique que é um homem de boa fé, que acreditariam ganhar as eleições com Huck e depois governar por ele. É uma armadilha medíocre, pequena, miúda, que não condiz com o passado que nós temos”, disse.

Para o prefeito, o próprio partido dificulta seu trabalho trabalho de se reerguer. Ele acredita que se tivesse espaço para debates, outras candidaturas já teriam sido liquidadas.

Além da disputa acirrada com Alckmin, a quem considera que o deixou sem espaço, Virgílio vê uma grave crise na identidade do partido. O principal problema é a não adesão à reforma da Previdência. Para ele, ao se valer de justificativas para não votar o texto, os tucanos estão agindo igual aos partidos que criticam.

A razão de não querer a reforma é igualzinha a dos outros partidos que não querem votar, é medo de perder voto, medo das corporações.

Leia a íntegra da entrevista.

HuffPost Brasil: Há consenso no PSDB sobre a disputa de 2018?

Arthur Virgílio: O PSDB ao meu ver já teve um tempo mínimo para se recuperar politicamente. Eu propus as prévias em outubro e protelações por mais protelações foram conduzindo até o momento. O que a gente vê é o governador Alckmin se dispondo a aceitar apenas um debate, o que é inaceitável por mim. De dez debates foi para cinco, de cinco propus três, e ele quer apenas um em sei lá quais condições, mediado por não sei quem, é um quadro de confiança que está sendo quebrado.

E como fica o partido?

O que eu entendo é que o partido deve jogar para ganhar eleição, mas também deve jogar para recuperar sua imagem, e as eleições são decorrência da imagem que você tem, boa ou ruim. O PSDB hoje é considerado o segundo partido mais corrupto do País, atrás apenas do PT. E muito na frente de corrupção quando se fala de PMDB, PP e esses partidos assim muito conhecidos como arroz de festa em matéria de corrupção.

Eleições são decorrência da imagem que você tem, boa ou ruim. O PSDB hoje é considerado o segundo partido mais corrupto do País, atrás apenas do PT.

Os tucanos precisam entender que toda essa retranca, todo esse medo, toda essa paúra de discutir e debater e divergir, tudo isso inevitavelmente leva a uma derrota presidencial. Tem uma pesquisa nacional bem recente que coloca todos os candidatos alinhados, e eu saí com 1,1%. Para quem nunca tinha sido colocado em nenhuma pesquisa isso foi um começo bom, para quem não teve como fazer campanha porque o staff do partido se moveu para que eu não pudesse fazer campanha, esse é um resultado razoável, sobretudo comparando com o do Alckmin. 4,4%.

Alckmin já foi candidato à Presidência…

Ele é candidato desde 2006. Essa é a verdade. É uma coisa longe de segundo turno, é uma dubiedade que desperta desconfiança inclusive nos parceiros, é uma imprudência que às vezes faz com que uma proposta do partido seja refugada por uma insistência dos parceiros. Essa história de sai e não sai e entra não entra no governo [do presidente Michel] Temer, essa história de nós olharmos e vermos assim a reforma da Previdência. A dúvida que o pessoal tem em votar a reforma da Previdência, a pouca força que a direção do partido põe na exigência de votar a reforma. Tinha que ser uma coisa bem clara, ou vota ou sai. Não tem porque prender deputado que não queira ser nosso. Não dá para ter dubiedade em relação à nossa posição sobre a reforma da Previdência.

Para não votá-la já alegaram até que a reforma é uma reforma feita por um governo corrupto. Já vi pecados, mas esse é um pecado mortal. Porque o governo é corrupto então mandam uma reforma que beneficia o País, que pouca em dez anos R$ 117 bilhões, então como é assim, não se vota. Na verdade, a razão de não querer a reforma é igualzinha a dos outros partidos que não querem votar, é medo de perder voto, medo das corporações. Então, minha ideia é bem simples, expulsa quem não votar. É do ideário do partido e isso nos desmoraliza. Quando aderiu ao governo Temer foi para fazer uma transição, depois aconteceram coisas que sugerem que o partido deve se afastar com clareza, mas afastar do governo é uma cisa e não se afastar das reformas. Ou seja, o PSDB está se mostrando um partido igualzinho aos outros e depois ele não quer ser considerado um partido lesivo à opinião pública como está sendo.

O PSDB não lidera o processo de reforma, o PSDB não está sendo claro em relação a posição e punição para seus membros que discordarem da orientação fechada pela comissão executiva do partido. O PSDB está ficando um partido cada vez mais igual e ainda tem gente vaidosa no PSDB que se acha diferente. Isso me dá até uma certa pena. O partido é como uma pessoa que todo mundo vê a pessoa horrorosa e ela se olha no espelho, ele se acha lindo, o marco da beleza. Estamos diante um impasse muito grave. Vejo alianças sendo costuradas ou tentadas de qualquer jeito. Vimos um capítulo agora, encerrado parece que uma vez, do apresentador Luciano Huck.

Um dos entusiastas da candidatura de Huck, que desistiu, era o ex-presidente Fernando Henrique, um dos fundadores do PSDB…

O presidente Fernando Henrique errou. E eu digo isso porque já vi pessoas dizendo… Um colega meu me disse: Arthur, você criticou o Fernando Henrique. Mas porque não criticar o Fernando Henrique? O Fernando Henrique é uma pessoa tão criticável quanto qualquer outra. Que juventude bacana que ele tem, só uma pessoa jovial se mete em polêmica, você não tem que silenciar diante à idade das pessoas, nem para baixo, nem para cima, você tem que ouvir as pessoas de baixo, as mais jovens, você tem que respeitar todas elas, mas quem está no jogo e para jogar e estar no jogo é para realmente jogar. As críticas do Fernando Henrique são bem-vindas e quase sempre muito sábias, mas as críticas ao Fernando Henrique, eu não posso deixar de fazê-la.

Ele errou redondamente com essa história de Huck, um apresentador de auditório muito bom. Já tentaram uma vez uma brincadeira dessas e não deu certo, com Sílvio Santos, o que atrapalhou muito a candidatura do Mario Covas. E agora essa nova brincadeira de pegar um apresentador de auditório, e mais, confundindo políticas sociais com programa Lata Velha e o programa Lar Doce Lar. Ou seja, ali ganha a emissora, os anunciantes, o apresentador e o que ganha a sociedade? O que a sociedade lucra ao saber que existe um rapaz que faz “bondades” nas tardes de sábado. Acho que Fernando Henrique errou completamente. Entregar o partido nas mãos de um apresentador de televisão, uma pessoa que não está preparada para lidar, nunca foi nada na administração pública, e antes de ser nada obteve empréstimo do BNDES para comprar um avião de R$ 20 milhões. Não sei em que serviu para o desenvolvimento econômico e social do Brasil, em que serviu dar um jato para o senhor Huck.

Há uma rejeição muito grande aos políticos tradicionais, ele se apresenta como alguém fora disso…

Esse é o problema. Fernando Henrique foi um dos principais fundadores do partido, seguindo Covas e Franco Montoro. Nós fizemos um partido diferente, que tem muitas realizações pelo País, mas se o partido tiver que perder uma eleição para se purgar e se preparar para novas lutas, para não se extinguir e não se tornar um partido irrelevante, se ele tiver que para isso não ganhar essa eleição, ele não via ganhar. Importante é que saia o melhor para o Brasil, ele não vai mostrar que somos os melhores para o Brasil, não temos que ganhar com qualquer preço, qualquer golpe, nem vamos nos valer de Luciano Huck para ganhar eleições. Isso sugere duas coisas: 1. erro político grave do Fernando Henrique ou 2. a intenção de alguns aproveitadores, o que não se aplica ao Fernando Henrique que é um homem de boa fé, que acreditariam ganhar as eleições com Huck e depois governar por ele. É uma armadilha medíocre, pequena, miúda, que não condiz com o passado que nós temos. O PSDB foi quatro vezes segundo lugar, nesta vez arrisca não ir nem para o segundo turno. Olha como está São Paulo.

A situação da sucessão em São Paulo é delicada por causa do acordo com Márcio França, do PSB…

Ele exige que o Alckmin esteja no Palanque dele porque ele tinha um acerto com o Alckmin e esse acerto seria o Alckmin ser candidato ao Senado ou à Presidência e ele ao governo. Ele já disse – de uma maneira que eu considero repulsiva – que se não for o candidato do PSDB, vai demitir todos os tucanos que estão pendurados na máquina. Ou seja, deve ter muito tucano pendurado na máquina lá, o que desmente a imagem de uma boa governança, de quem não deixa aparelhar. Está aí o PSDB ameaçado de perder cargos, o PSDB que dizia longe dos Palácios e perto do povo e agora a gente está com medo de perder cargos. O PSDB de São Paulo pode até aceitar a candidatura de Márcio França, mas não lealmente. Márcio França não faria bem se ficasse confiando que vai ser apoiado para valer.

Deve ter muito tucano pendurado na máquina lá, o que desmente a imagem de uma boa governança, de quem não deixa aparelhar.

Dei a eles uma oportunidade de fazermos quatro meses de debates pelo País. Com isso, nós já teríamos liquidado essa história de Ciro Gomes, Bolsonaro, já tinha impedido coisas esdrúxulas, tipo Luciano Huck, já teríamos quatro meses de debate pelo País. Propus que fizéssemos juntos, vi que não colou e propus que fizéssemos separados. Mas não. Como ele se recusa a me enfrentar, como vai enfrentar o pessoal de fora. É muito complicado.

Ele quer me derrotar, o que não é difícil, diante todas as dificuldades que ele colocou no meu caminho. Mas eu pergunto, ele derrota os outros que estão lá fora? Derrota os outros que estão enraizados em campanha? Derrota os outros do centro? Basta Geraldo Alckmin declarar que ele é a favor de reformas? Se a gente tem a lembrança dele vestido de carteiro em 2006 para provar que não era a favor das privatizações.

Internamente, a disputa no caso entre Aécio e Tasso Jereissati deixou marcas?

Deixou, o caso Aécio foi emblemático e desastroso. Agora, o episódio do Tasso tem uma coisa, ele foi designado pelo Aécio para presidir o partido e depois foi convencido que deveria ser candidato à reeleição, mas disseram que não podia porque ele estaria com a máquina do partido na mão. Dias depois, elegem Alckmin presidente do partido, apesar de candidato. Ou seja, o que valeu para o Tasso e soou como uma punição, não valeu para o Geraldo. Ele é presidente do partido, pré-candidato e a pessoa que marca toda agenda do partido. Percebo que há um certo temor reverencial. Atrás dele, existe uma capa, percebo ele como uma pessoa impositiva, meio forçada, meio forçosa. Quase que eu digo, que se eu virasse um capacho, se não virei antes, enfrentei a ditadura, me sinto uma pessoa muito vitoriosa politicamente, se não fosse isso

Lamento muito pelo partido, o partido está passando por um teste de fogo, um teste difícil, um teste complicado, não luta pela sua unidade, não luta. Se desapega do compromisso com as reformas. O que o PSDB não quer, igual ao PR, ao PMDB, PP, ao PTB, não quer votar a reforma por causa da eleição.

Seu discurso se aproxima do que os jovens do partido falam, porque não há aderência?

Sinto que poderia estar entre os mais jovens, mas eles próprios precisam se decidir se são a favor ou não da reforma da Previdência. E volta a questão da eleição. Mas precisam se decidir e isso que vai caracterizá-los como jovens. Mandato não foi feito para você ser reeleito, foi feito para você exercê-lo com dignidade. Você não tem que ficar planejando a outra eleição, mais a outra e a outra, se não você vira um carreirista, um oportunista.

Mandato não foi feito para você ser reeleito, foi feito para você exercê-lo com dignidade.

Acho que eles, o partido, levam muito a sério cada eleição e não tem conseguido êxito. Talvez se eles levassem a sério o seu programa, talvez ele pudesse ganhar eleições. Você não ganha eleições só porque você quer. Não é assim. É preciso nos apegar a certos princípios, o PSDB é parlamentarista, é reformista. Está perdendo esse título de campeão das reformas em busca de uma taça nas eleições, que dificilmente conseguirá se continuar ambivalente, se continuar double-face desse jeito.

CARIRI EM AÇÃO

Com HuffPost Brasil /Foto: Reprodução  

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