Entidades do setor de bebidas alcoólicas reagiram com críticas às declarações do futuro ministro Osmar Terra (MDB) sobre restringir o horário de venda desses produtos no país a fim de melhorar os índices de segurança pública.
Representante de gigantes do setor cervejeiro como Ambev e Heineken, o Sindicerv (Sindicato Nacional da Indústria da Cerveja) citou o prejuízo econômico como impacto direto da medida.
“Pode agravar ainda mais a situação econômica do país, já que pode desempregar milhares de trabalhadores do setor de bares e restaurantes. Experiências internacionais mostram que a restrição dos horários de venda de bebidas não é o que reduz os índices de violência, cujas causas são mais complexas”, afirmou.
Em entrevista publicada no jornal O Globo nesta sexta-feira (21), o futuro titular da Cidadania afirmou que já discute o tema com o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL).
“Se reduzir o horário de venda de bebidas alcoólicas em restaurante, em bar (…) podemos fazer junto com o [Sergio] Moro, na Justiça, uma política de redução da violência”, afirmou Terra.
Segundo o próximo ministro, a restrição de horário se justifica por que a maior parte dos acidentes e mortes causadas por pessoas embriagadas acontecem depois da meia-noite. Terra disse que a medida pode ser setorizada em lugares mais violentos.
Para Paulo Solmucci, presidente da Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes), a fala do emedebista “tem equívocos muito importantes”. “Urbanistas pregam exatamente o contrário, que se estimule o comércio e serviço, em especial bares e restaurantes, para estimular a segurança pública. Uma rua com pessoas é mais segura”, diz. “Ele se preparou mal sobre o tema. Surpreende que faça uma tentativa nesse setor sem ouvir o setor.”
Solmucci diz ainda que tal tipo de restrição não é competência ministerial. “Quando ele diz de fazer isso em apenas algumas cidades –isso compete à comunidade local, ao prefeito, aos vereadores da Câmara Municipal. Ele bem faria se estivesse cuidando do ministério dele, que já tem muita coisa”, afirma.
Já Fábio Aguayo, presidente de outra entidade da classe, a Abrabar (Associação Brasileira de Bares e Casas Noturnas), diz acreditar que houve precipitação na declaração. “Eu senti que isso não é programa de governo, é ideia dele. E me preocupa porque ele é indicado da bancada evangélica.”
Segundo o Sindcerv, o setor de bares e restaurantes emprega 3 milhões de pessoas no país e 60% do consumo nesse setor é de bebidas alcoólicas. “Esse [o limite] não é o caminho. O sindicato está aberto ao diálogo. Todos os associados entendem que a legislação atual é suficiente.”
Terra citou como exemplo de sucesso Diadema (Grande SP), que desde 2002 tem uma lei que obriga os bares a fechar às 23h. Associada a outras ações, a medida ajudou a reduzir o número de homicídios na cidade.
Folhapress.