Ex-governador Ricardo entra com ação no MPF contra Bolsonaro por causa da Transposição

O ex-governador Ricardo Coutinho (PSB) anunciou neste domingo (1º), durante discurso no ato ‘SOS Transposição’, que entrará com uma representação no Ministério Público Federal (MPF) contra o presidente Jair Bolsonaro (PSL). Ele, senadores e deputados, querem reativar o bombeamento das águas do Rio São Francisco para a Paraíba e exigir ação do presidente, que suspendeu há quase seis meses o abastecimento do eixo Leste, em Monteiro, no Cariri.

“Já está pronta uma representação no sentido de cobrar medidas imediatas para que o governo Federal retome o bombeamento das águas. É preciso fazer imediatamente isso, porque o município de Monteiro já está em racionamento e todos os açudes da região como Sumé, Congo e Poções estão no volume morto. É preciso que essa água volte a chegar na Paraíba para que a gente retire o fantasma do racionamento e a população volte a ter água em sua porta”, enfatizou Ricardo.

Durante o discurso, ele leu uma carta enviada pelo ex-presidente Lula colocando a inauguração popular da Transposição em 2017 como um dos momentos mais felizes de sua vida.

“A oportunidade que me foi dada pelo povo brasileiro de governar esse país fez de mim um homem feliz. Vocês nem imaginam a alegria que eu sentia quando assinava um decreto para beneficiar milhões de pessoas ou quando visitava uma obra, inaugurava uma universidade… poucas coisas me fizeram mais feliz como tirar do papel um sonho de gerações, tirar do papel a transposição”, relembrou Ricardo o discurso do Lula.

O ex-prefeito de São Paulo e ex-candidato a presidente da República, Fernando Haddad, disse que o que está ocorrendo com a Transposição do Rio São Francisco é um crime ambiental, assim como ocorre na Amazônia.

“Ao manter o canal seis meses sem água, como faz Bolsonaro, o mesmo vai se deteriorar e terá que ser refeito devido aos efeitos de diferença de temperatura. É um absurdo o que Bolsonaro está fazendo com povo e estamos com o povo exigindo que volte irrigar o canal para penerizar os rios e açudes. Estivemos aqui há dois anos para inaugurar a obra da Transposição e vê-la abandonada é uma tristeza e demonstra o desprezo de Bolsonaro a Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte e o povo do Nordeste”, falou.

Legado – Para a vice-governadora de Pernambuco e presidente nacional do PCdoB, Luciana Santos, a Transposição do Rio São Francisco é o maior legado do ex-presidente Lula, que, segundo ela, está sendo injustiçado com uma prisão política.

“É preciso que os movimentos sociais e o povo se organizem para que este governo Federal possa se sensibilizar contra o abandono da maior obra hídrica do Nordeste que garantirá água para mais de 12 milhões de nordestinos”, ressaltou.

O senador Veneziano Vital (PSB-PB) destacou que, como parlamentar e como campinense, sente os reflexos da situação da Transposição e que este grito é um alerta para que o governo federal entenda a importância da retomada do bombeamento das águas da Transposição no eixo Leste.

“É preciso que o governo federal se sensibilize com uma situação tão grave que é a volta do racionamento em Campina Grande e nas cidades do Cariri e que o sertanejo também tenha direito a essa obra de fundamental importância para a segurança hídrica do nosso povo”, completou.

Carreatas – As ruas do município de Monteiro foram tomadas, neste domingo, por uma multidão num só grito “SOS Transposição”. A população saiu da estação de bombeamento, na entrada de Monteiro, e seguiu em caminhada para protestar contra a paralisação do bombeamento das águas da Transposição e o abandono da obra do eixo Norte, que encontra-se parada desde o início do atual governo.

Dezenas de lideranças nacionais e da Paraíba participaram do ato SOS Transposição, como o ex-candidato a presidente da República, Fernando Haddad, a presidente nacional do PT e deputada federal Gleisi Hoffman, e a vice governadora de Pernambuco e presidente nacional do PCdoB, Luciana Santos.

Os senadores Humberto Costa (PT) e Veneziano Vital (PSB), os deputados federais Gervásio Maia, Damião Feliciano, Frei Anastácio, Natália Bonavides, João Campos (PE) e Gonzaga Patriota (PE) foram outros políticos presentes. As deputadas estaduais Cida Ramos, Estela Bezerra e os deputados Buba Germano, Jeová Campos, Chió, Anízio Maia, Francisco do PT (RN) e dezenas de prefeitos das regiões do Cariri e Seridó também estiveram protestando.

Cidadão – Não foi só polítoco e artista que protestaram em Monteiro pela volta das águas do Rio São Francisco. Os moradores da cidade estiveram no Ato e disseram que não aguentam mais viver sem água. O técnico de internet a e morador de Monteiro, Eduardo Gomes, disse que sente uma tristeza quando chega na estação das águas de Monteiro e ver a água parada, quando passaram mais de um ano usufruindo das águas da Transposição nas torneiras das casas.

“Infelizmente o racionamento de água voltou aqui em Monteiro, inclusive na cidade. Isso prejudica muito o povo e o comércio. É preciso lutar por essa obra importante tocada pelo presidente Lula, mas que pertence ao povo”, pontuou.

Técnica – O geógrafo e professor do IFPB, Ericson Torres, explicou que há mais de um ano que a Transposição vinha abastecendo os municípios do Cariri e de Campina Grande, que voltam a depender dos açudes em nível crítico de volume. “Agora, infelizmente, encontramos o canal sem manutenção, sem água, o que prejudica as pessoas da cidade e do campo, que utilizavam essa água para irrigação”, ressaltou.

Ericson explicou que a falta de manutenção dos canais da Transposição pode inviabilizar uma obra que beneficia mais de 12 milhões de nordestinos com segurança hídrica. “Nós estamos a 600 metros de altitude na região do semiárido, que tem temperaturas muito altas durante o dia e muito baixas à noite. Uma oscilação térmica de 10 graus que provoca dilatação nas rochas e gera um processo de fraturas do canal”, finalizou, explicando o que pode acontecer.