No retorno do isolamento, Bolsonaro tenta se equilibrar entre radicais e o pragmatismo para governar

O presidente Jair Bolsonaro retoma a agenda presencial depois de duas semanas de isolamento, período em que testou positivo para Covid-19, com o desafio de se equilibrar entre seus apoiadores mais radicais e ao mesmo tempo manter a postura de melhor diálogo institucional com os poderes Legislativo e Judiciário.

Auxiliares do presidente viram nos gestos do fim de semana uma sinalização do tom que Bolsonaro deve adotar nos próximos meses.

Um exemplo foi a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) no Supremo Tribunal Federal (STF) protocolada pela Advocacia-Geral da União (AGU) pedindo a suspensão de decisões judiciais na esfera criminal que tenham determinado bloqueio, interdição e suspensão de perfis em redes sociais.

Um interlocutor lembra que, em passado recente, Bolsonaro evitava o caminho institucional e optava por fazer duras críticas em tom de ameaças aos ministros do STF. A ação foi protocolada um dia após 16 apoiadores do presidente, investigados por suposta disseminação de fake news, terem perfis bloqueados pelo Twitter e pelo Facebook.

O bloqueio foi determinado pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF, que é o relator do inquérito das fake news. A AGU é genérica na ação e não cita especificamente a decisão de Moraes, mas todas que determinaram bloqueio semelhante. O governo argumenta que não está defendendo a prática de ilícitos penais.

Outro movimento de Bolsonaro no fim de semana foi a visita para a deputada Bia Kics (PSL-DF), que na semana passada foi destituída do cargo de vice-líder do governo no Congresso depois de votar contra a PEC do Fundeb, o que deixou o próprio governo exposto. Bolsonaro não voltou atrás em sua decisão de tirá-la da vice-liderança, mas fez um gesto simbólico para prestigiar a aliada, que integra o grupo mais radical de apoiadores do presidente.

“Tudo sinaliza para um movimento de acomodação de Bolsonaro entre o seu grupo extremista e a necessidade de ser pragmático para governar”, observou ao blog um auxiliar próximo do presidente.

COM G1