Investimento estrangeiro direto entre janeiro e agosto é o menor desde 2009, informa Banco Central

Os investimentos estrangeiros diretos na economia brasileira somaram US$ 26,957 bilhões de janeiro a agosto deste ano, informou o Banco Central nesta quarta-feira (23).

Com isso, houve queda de 41% frente ao mesmo período de 2019, quando somaram US$ 46 bilhões. O valor é o menor para o período desde 2009, quando totalizaram US$ 18,972 bilhões. Ou seja, foi a menor entrada de investimentos no país em 11 anos.

Os números do BC contrastam com as declarações desta terça-feira (22) do presidente Jair Bolsonaro. Em discurso veiculado na 75ª Assembleia das Nações Unidas (ONU), ele afirmou que estaria havendo aumento investimentos no país, e que isso comprovaria a “confiança do mundo” no governo brasileiro.

“O Brasil foi, em 2019, o quarto maior destino de investimentos diretos em todo o mundo e no primeiro semestre de 2020, apesar da pandemia, verificamos um aumento de ingresso de investimentos em comparação com o mesmo período do ano passado. Isso comprova a confiança do mundo no nosso governo, disse o presidente”, disse Bolsonaro.

Aumento de investimentos 'comprova a confiança do mundo em nosso governo', diz Bolsonaro

De acordo com o chefe do Departamento de Estatísticas do BC, Fernando Rocha, o investimento direto se caracteriza por uma relação de longo prazo entre a empresa investida, que está no Brasil, e a investidora, no exterior.

“O que estamos vivendo hoje é uma situação internacional pode-se dizer inédita e afeta de formas diferenciadas os componentes do balanço de pagamentos, como o investimento direto. O mais provável é que [os investimentos estrangeiros] voltem quando a situação tiver um menor nível de incerteza aos patamares anteriores”, disse ele.

Retirada de aplicações financeiras

Além disso, os números do BC mostram retirada pelos investidores de US$ 28,281 bilhões de aplicações financeiras no Brasil nos oito primeiros meses deste ano. O valor inclui ações, fundos de investimentos e títulos da renda fixa.

Segundo ao BC, essa é a maior saída de recursos de aplicações financeiras da economia brasileira desde o início da sua série histórica em 1995, ou seja, em 26 anos. No mesmo período do ano passado, US$ 7,509 bilhões ingressaram no país em aplicações financeiras.

Fluxo total de dólares

Os números do fluxo cambial, por sua vez, mostram que foi registrada uma saída de US$ 15,215 bilhões nos oito primeiros meses deste ano.

O valor contabiliza todas as entradas e saídas de dólares da economia brasileira, seja com aplicações financeiras ou relacionadas com a balança comercial brasileira (contratações de câmbio para exportações e importações).

De acordo com dados do BC, os primeiro oito meses do ano também registraram a maior retirada de recursos da economia brasileira desde o início da série histórica, em 1982, ou seja, em 38 anos.

No mesmo período de 2019, US$ 6,526 bilhões haviam deixado o Brasil. Em todo o ano passado, quase US$ 45 bilhões foram retirados do país.

Segundo Fernando Rocha, do Banco Central, depois do pior momento da crise – em março, abril e maio –, os dados mostram melhora.

“Dados mais recentes do balanço de pagamentos [contas externas] como um todo são melhores do que os dados de março e abril, por exemplo. Parece haver uma melhora, mesmo que seja gradual, incompleto, um caminho para essa melhora”, disse ele.

Meio ambiente

Em julho deste ano, um grupo de 29 instituições financeiras de todo o mundo enviou uma carta aberta a diversas embaixadas brasileiras, pedindo demonstrações de que o país está comprometido em acabar com o desmatamento. Juntos, esses investidores administram recursos no valor de R$ 20 trilhões.

No texto, o grupo demonstrou preocupação com os relatos de desmanche das políticas ambientais e de direitos humanos e das agências de fiscalização no Brasil.

COM G1