DIDA: o Segundo Pacheco dos 3 do Nordeste; confira entrevista exclusiva

O caririzeiro Rosildo Isbelo de Moraes, nasceu em 1976, em Taperoá na Paraíba. Vamos parar!

Nosso entrevistado de hoje, chama-se na verdade, Dida Pachequinho. Dida, é conterrâneo de grandes artistas da música nordestina a exemplo: Abdias dos 8 baixos, Fuba de Taperoá, Zito Borborema, Vital Farias e outros…

Na segunda metade dos anos 90, o grupo Os 3 do Nordeste, passaria apresentar sua nova formação. Nesta composição destaca-se um componente: alto, cor branca, com habilidade para cantar e tocar a sanfona branca do saudoso Zé Pacheco. Com essas características, tudo pronto! O musico ganharia o sobrenome de Pachequinho.

Capa do Disco de 1998

Para a nossa alegria Dida, foi o primeiro sanfoneiro caririzeiro dos 3 do Nordeste, ao lado do saudoso Parafuso e Assum Preto.  Consagram os sucessos: “Perguntas Sem Respostas (1998)”e  “Xote Nota Mil (1997)”.

Em sua carreira, Dida, já dividiu o palco com vários cantores conhecidos no território nacional. Destacamos: Inaldete Amorim, Amazam, Brasas do Forró, Ton Oliveira, Marrom (ex- 3 do Nordeste), Marinês, Geraldo Azevedo, Samuel Rocha e o Padre Alessando Campos (TV Aparecida). 

A prosa cultural no Cariri Em Ação, é com esse moço que muito têm a contar. Fala Dida!

CARIRI EM AÇÃO: Qual o ano que você entrou para os 3 do Nordeste? E como lhe encontram?

D.P. Tive o prazer de receber o convite de Parafuso, depois da campanha eleitoral de 1996. Pra mim foi uma grande alegria. Já morava em Campina Grande e tocava com uma grande cantora, a Inaldete Amorim. Estava tocando em um comício e a esposa de Parafuso, subiu no palco e perguntou se eu queria fazer um teste, para tocar com Os 3 do Nordeste. Fui no outro dia. Havia mais dois sanfoneiros: um alagoano e outra paraibano; eles tocavam muito! Fiz o teste e fui para casa. Até triste: pois não me achava a altura deles.     

No dia da eleição, eu trabalhava no Fórum de Taperoá: estava na contagem de votos. Na época era TELPA, chegou uma ligação pra mim, fui atender e era Parafuso. Me dando a notícia que tinham dois shows, no outro dia no Rio Grande do Norte: Jardim do Seridó e Acari. Eu perguntei, e daí? Ele falou você é o sanfoneiro!

Aquilo pra mim foi uma alegria muito grande! Qual era o sanfoneiro naquela época, que não sonha em fazer parte dos  3 do Nordeste?  Fui contemplado. Minha vida passou a mudar depois dali.  

CARIRI EM AÇÃO: Quem lhe batizou de Pachequinho, e qual a responsabilidade de carregar esse nome?

D.P. Duas semanas após estar fazendo parte dos 3 do Nordeste. Surgiu uma viagem pro Rio de Janeiro. Na época os 3 do Nordeste, eram muito conhecidos, com o nome em todo o Brasil. Que ainda hoje é.  Toda vez que o trio ia para Rio, davam uma entrevista em uma rádio.  E o radialista era Iranilsom. Quando eu cheguei, novinho com a sanfona branca que foi de Zé Pacheco; ganhada de Luiz Gonzaga. Detalhe: a primeira coisa que fiz quando entrei nos 3 do Nordeste, foi comprar essa sanfona; eu era louco por ela… Chegando com as roupas do trio e a sanfona, o cara olhou pra mim e disse: o filho de Zé Pacheco! Vem pra cá Pachequinho! Senta aqui Pachequinho.  

Sentei. Ele começou a fazer perguntas. Por que você não entrou no grupo, assim, que seu pai faleceu?  Ai, Parafuso foi e disse, para não ficar sem graça, não quebrar o clima da situação, né? “Não, ele era muito novinho, estávamos preparando-o”. Claro! Quando Pacheco morreu, eu tinha 16 anos. Isso tudo ao vivo. Ele (Iranilsom) me chamando Dida Pachequinho. Quando chegamos no show a noite, pediam autógrafos e mim chamavam Dida Pachequinho. Então, Assum Preto  nos shows ajudando e ficou como  Dida Pachequinho.            

CARIRI EM AÇÃO: Você era bastante novo, quando entrou para os 3. Como foi cumprir com essa responsabilidade?

D.P. A responsabilidade que botaram nas minhas costas, de levar esse nome de Pachequinho: foi uma coisa maior que grande! Porque, Zé Pacheco fez história. Foi o fundador do grupo (1972-1994). Dedicou uma vida… Então, eu recebi esse título: “sucessor de um cara tão famoso”. 

Foi uma responsabilidade muito grande. Eu tinha que fazer exatamente como ele fazia.  É tanto que: a gente sentava e Parafuso era o professor; tal musica foi gravada em tal ano? Tínhamos que responder eu e Assum Preto. Qual era o compositor de tal música? Em que faixa estar tal música? Qual o lado do disco?  Tínhamos que decorar tudo, tudo! No pé da letra! Até a ficha técnica a gente sabia.

Hoje, Parafuso não existe mais. Mas, talvez Parafuso não tenha mais passado esse ensinamento, para os nossos sucessores.  

CARIRI EM AÇÃO: Depois da morte de Zé Pacheco em 1994, quem assumiu o posto e você foi o sanfoneiro que número?

D.P. Eu tinha 16 anos, quando ocorreu a morte de Zé Pacheco. Ouvi as notícias no rádio e na televisão. Ocupar o espaço não passava de um sonho. Mas, Zé Pacheco passou sete dias internado, deu entrevista e indicou Zé Nilton de Patos para compor Os 3 do Nordeste.  

Então, Zé Nilton passou seis meses ainda em 1994. Depois veio Joca do Acordeon de João Pessoa; em seguida Guarabira da cidade brejeira de Guarabira, ficou até 1996. Eu entrei em 1996 sair em 1999.

Depois entraram: Ediglei Miguel filho do Maestro Edgar Miguel; Titico do Acordeon de Santa Luzia irmão de Luiz Bento. Com a sida de Titico, entra Rosildo de Alagoa Grande. Depois vem Pingo de Riachão de Bacamarte; Adriano Silva caririzeiro de Monteiro; Hedran Barreto. E agora, Douglas Silva de Livramento.    

Continua, os músicos são escolhidos a dedo…Bom gosto!

CARIRI EM AÇÃO: Dida você é uma pessoa que conseguiu dá a volta por cima. Fale dos seus inícios?

D.P. Comecei tocando zabumba e depois sanfona, no Grupo de Cultura Os CARIRIS de Taperoá: conhecido nacionalmente e internacionalmente; três vezes na Europa. Foi ali que tínhamos uma viagem para a Europa. O sanfoneiro do grupo, não foi, porque tinha medo de avião. Pedi ao diretor do grupo para tocar sanfona. Eles não tinham alternativa. Me deram a sanfona e fui pra casa. Larguei os estudos e me dediquei: dia e noite, 2hs da manhã, eu estava ensaiando. Resultado: com dois messes estava tocando forró. Isso se chama: determinação, força de vontade.

A prova disso, que eu e Assum Preto, estávamos nos Brasas do Forró. Sofri um acidente em 2000. Cheguei a zero, perdi 80% da memória. Aprendi fazer tudo de novo: falar; andar; ler; escrever e tocar desde do começo, a exemplo do “Parabéns Pra Você”. E até hoje, ainda estou aprendendo…

CARIRI EM AÇÃO: Você além de tocar, também é compositor. Fale de algumas músicas?

D.P. Em 1999, tínhamos um CD pronto para gravar. Recebemos um convite para irmos para os Brasas, conversamos e fomos, eu e Assum Preto. Deda, Rosildo e Parafuso, gravaram o CD. Com três músicas minhas: Quando Penso em Você, Quando a Mulher Vai Embora e Amo Você. Depois Os Brasas também gravaram músicas minhas.

CARIRI EM AÇÃO: Agora Dida. Após tantos anos, tem algo seu junto aos 3 do Nordeste que o público ainda não sabe? Por exemplo, uma história engraçada.

D.P. Têm muitas histórias engraçadas (risos). A gente vivia de alegria: no grupo não tínhamos tristeza. Não havia discórdia e nem discursão. Uma vez, tocamos em Altinho/PE, e voltamos para tocar em Campina no Parque do Povo.

Na correria de tomar banho e trocar de roupa e tal…Eu coloquei o creme dental na escova, fui para o banheiro, passei por Parafuso já pronto. Quando chego no banheiro, olho não tinha mais creme dental… Beleza! Quando chegamos no camarim no Parque do Povo, muita gente. Quem ia tocar antes era Nando Cordel. Quando olho para Parafuso, vejo o meu creme dental em sua camisa…Risos e mais risos… 

Outra passagem: o Assum Preto tinha uma mania: na hora do show ele abria escala; no São João de Euclides da Cunha na Bahia.  Quando ele abriu as pernas a calça rasgou. Ele estava com uma cueca preta e calça branca…Passou o resto do show de pernas juntas (risos).  

CARIRI EM AÇÃO: Atualmente Dida Sanfoneiro dedica-se a algum projeto? Qual?

D.P. Eu tenho minha banda, que sempre tocamos no São João. Tocando com Geral Azevedo e uns sertanejos. Em Brasília eu toco com Samuel Rocha, cantor que imita os sertanejos, em 2015, gravei o DVD dele. Em Brasília, gravo muito para sertanejos. Paramos devido a pandemia.

CARIRI EM AÇÃO: Para uma reflexão: após pandemia, como será o comportamento da classe artística?

D.P. A vida ficou muito conturbada. O músico sempre apoio os políticos. Mesmo não sendo certo. Pois, somos profissionais. Eles não apoiaram a gente. Essa é a verdade!

Estamos no mesmo barco que todo mundo…  

Obrigado Dida! Assim, escrevemos mais uma página no livro da cultura regional. Buscamos, valorizar nossos promotores de cultura, dentro de sua respectiva área.

Para encerrar, registramos: “A Cultura é alma e a honra de um povo”, Ariano Suassuna. 

Por: Marcos Lima (Cariri em Ação)