Netflix diz que não censurará títulos mesmo que eles sejam vistos como ofensivos

A Netflix afirmou que “não vai censurar artistas ou vozes” mesmo que os trabalhadores da empresa considerem certos conteúdos nocivos em uma nova versão do manual de cultura organizacional que distribui a seus funcionários. A informação foi divulgada nesta quinta (12) pela revista Variety, que teve acesso ao documento.

“Como funcionários, nós apoiamos o princípio de que a Netflix oferece uma diversidade de histórias, mesmo que alguns títulos sejam contrários aos nossos valores pessoais. Dependendo da sua função, você vai precisar trabalhar em títulos que ache nocivo”, afirma o memorando em uma nova seção intitulada “Expressões Artísticas”, que acrescenta: “Se você acha difícil apoiar a amplitude de nosso conteúdo, a Netflix não deve ser o melhor lugar para você”.

O documento interno expõe as diretrizes corporativas da plataforma e não era atualizado há cerca de cinco anos. As novas orientações vêm num momento em que a empresa sofre sua primeira grande queda de assinantes –segundo a própria Netflix, ela perdeu 200 mil assinaturas no primeiro trimestre de 2022.

Outro episódio que precede o lançamento do documento envolveu o programa humorístico “The Closer”, de Dave Chappelle, e a funcionária da Netflix Terra Field, uma mulher trans. Numa postagem no Twitter, ela acusou Chappelle de atacar a comunidade trans no stand-up e de jogar a comunidade negra contra outro grupo discriminado socialmente. Ela e outros três funcionários que teriam invadido uma reunião do alto escalão da empresa foram demitidos pela Netflix, mas depois ela foi recontratada.

Vale notar que, embora a Netflix se posicione contra a censura no documento, ela não costuma recusar pedidos de retirada de conteúdo feitas por governos dos países onde atua. Por exemplo, no ano passado, ela acolheu ao menos sete pedidos de censura, vindo das Filipinas, Rússia, Turquia, Singapura e Vietnã.

As novas diretrizes também orientam os funcionários da Netflix a “gastar o dinheiro dos assinantes com mais sabedoria”, o que indica uma mudança no comportamento da empresa de streaming, agora mais preocupada com a saúde financeira da empresa.

Exemplo disso é que foi eliminada, na nova versão, um trecho do documento afirmando que “praticamente não há controle de gastos e de assinatura de contratos, sendo que cada empregado deve procurar as orientações e perspectivas adequadas”. O trecho suprimido ainda dizia que “usar o bom senso” era o preceito central da empresa.

FolhaPress