Empresas recuperam lucratividade, mas incerteza ainda pesa na decisão de investir

RIO – As grandes empresas , após um longo período de recessão e estagnação, começaram a ver a lucratividade voltar aos balanços e reforçar o caixa na primeira metade de 2019, o que abre espaço para retomarem investimentos , um passo essencial para uma recuperaçãomais rápida da economia.

 No entanto, fatores como o agravamento do pessimismo internacional diante da guerra comercial entre Estados Unidos e China, a crise argentina e o risco político do governo de Jair Bolsonaro — cuja retórica sobre Amazônia desencadeou ameaças de represálias comerciais contra o Brasil — deixam os empresários mais cautelosos na hora de tirar um novo projeto do papel ou fazer contratações. As incertezas minam o otimismo decorrente das melhores condições financeiras das empresas num cenário de juros baixos e de avanços na agenda fiscal do governo com a reforma da Previdência.

Levantamento do Grupo de Conjuntura da UFRJ com 200 empresas listadas na Bolsa, obtido com exclusividade pelo GLOBO, mostra que a relação entre seus retornos financeiros e seus patrimônios — comparação que mede quão lucrativo é o negócio — voltou ao nível de antes da recessão, que começou em meados de 2014. Essa taxa de lucratividade (quanto o lucro representa do patrimônio) chegou a 11,2% no segundo trimestre deste ano, mesmo patamar do início de 2012. No auge da crise, em 2015, ela chegou a cair 5,5%.

— A demanda melhorou em relação ao início da crise, embora ainda esteja pequena. Melhoraram preços relativos, como a taxa de câmbio, que ajuda as exportações, os juros e a inflação. Essa relação de juros baixos com lucro voltando é pilar básico do incentivo ao investimento. Poderemos ver uma retomada mais forte se o cenário internacional permitir — diz o professor da UFRJ Francisco Eduardo de Souza, um dos autores do estudo.

O economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, avalia que a situação das companhias melhorou, mas vê ruídos:

— Bancos estão mais abertos a conceder crédito, o custo financeiro das empresas caiu, mas as reformas são de longo prazo, o cenário internacional reflete aqui, e declarações do presidente sobre meio ambiente começam a afetar segmentos como agronegócio.

Melhora da confiança

A Vulcabras Azaleia, que reúne ainda as marcas Olympikus, Dijean, Opanka e Under Armour, é uma das empresas que viu as contas melhorarem com a alta de 9,4% no faturamento no primeiro semestre. A fabricante de sapatos, que emprega 15 mil pessoas, decidiu expandir sua unidade no Ceará, mas a cautela é a tônica, diz Pedro Bartelle, diretor executivo:

— Tivemos que adaptar a linha de produtos a um público de poder aquisitivo mais baixo, reposicionar alguns produtos, melhorar a distribuição. Sem isso, o resultado este ano seria pior que o de 2018. O primeiro semestre foi difícil, mas lançamos coleção em julho, e a carteira de pedidos para o Natal está muito boa.

fonte: O Globo