Paraíba reduz ações de desmatamento da Mata Atlântica em 47%, aponta relatório

A Paraíba registrou uma redução de 47% nas ações de desflorestamento da Mata Atlântica no período 2017-2018, em comparação ao período de 2016-2017, de acordo com um relatório divulgado este ano pela Fundação SOS Mata Atlântica e pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Os dados indicam que o estado conserva apenas cerca de 11% da cobertura original desse bioma.

Em todo o país, incluindo outras 16 unidades da federação, o bioma abriga, segundo o Ministério do Meio Ambiente, cerca de 20 mil espécies vegetais, além de aproximadamente 850 espécies de aves, 370 de anfíbios, 270 de mamíferos e 350 de peixes.

Para Rubens Benini, gerente de estratégia de restauração florestal da organização The Nature Conservancy América Latina, a baixa cobertura no estado é preocupante. “Quando a gente chega a menos de 20% de um bioma em uma região, espécies já não conseguem se reproduzir. É preciso manter o máximo do bioma, conciliando com o desenvolvimento econômico”, explicou.

Apesar disso, a perspectiva aparenta ser positiva, já que o relatório da SOS Mata Atlântica indica que, enquanto no período de 2016-2017 haviam sido desmatados cerca de 63 hectares (ha) na Paraíba, em 2017-2018 essa área caiu para 33 ha.

Na Paraíba, o bioma é formado majoritariamente por área de mata, que abrange cerca de 54,9 hectares, assim como por 11,5 ha de mangue e 672 de restinga com árvores, ainda segundo o relatório.

Reflorestamento

O estágio de recuperação da Mata Atlântica no país, a partir do ano de 2011 até 2015, foi analisado por mais de 20 pesquisadores, incluindo Benini. O objetivo do estudo foi compreender se o Brasil conseguiria cumprir com o “Desafio de Bonn”, um compromisso global assumido pelo país de reflorestar 1 milhão de hectares do bioma até 2020. Os resultados foram publicados este ano, no artigo intitulado “Há esperança para alcançar os compromissos ambiciosos para restauração da Mata Atlântica”.

A pesquisa constatou que, ao longo desse período, foram reflorestados cerca de 5,5 mil hectares de Mata Atlântica na Paraíba, que permaneceram nesse processo de recuperação até 2017. A área é uma das menores registradas entre os 14 estados acompanhados, porém Rubens Benini destacou que, embora questões socioeconômicas da região interfiram, é preciso levar em conta outros fatores.

“Primeiro por conta da cobertura florestal desse bioma na Paraíba, já que é uma área um pouco menor. A gente pega São Paulo, Minas Gerais, a região é maior pela área relativa do estado. Mas é importante a gente vê também que a Paraíba é um estado que tem diminuído o desmatamento”, comentou.

A equipe utilizou coleções de mapas e o mapeamento via satélite do projeto Mapbiomas para obter os dados. A estimativa é que, nesse período, de 673 a 740 mil hectares de floresta nativa estivessem em processo de recuperação.

Para ser considerada como floresta restaurada era preciso que a área:

  • Fosse anteriormente classificada como de agricultura ou de pasto por pelo menos cinco anos consecutivos;
  • Tivesse pelo menos cinco pixels conectados (no mapa) também classificados como de reflorestamento;
  • Fosse considerada como uma floresta por pelo menos três anos consecutivos e permanecesse nesse processo de recuperação até 2017;
  • Não fosse uma plantação comercial de árvores.

Segundo Benini, a pesquisa mostrou que, embora seja ambiciosa, a meta do Desafio de Bonn é possível. Contudo, o engenheiro florestal destacou que, mesmo com a regeneração natural, é necessário adotar outras metodologias para potencializar o processo, como difusão de informações, por meio da educação, assim como a melhoria nas formas de monitoramento.

“Esse trabalho trouxe uma ferramenta importante: o papel do setor público-privado, ir a campo, entender o que esses produtores ganharam para abandonar essas áreas que se regeneraram, criar políticas públicas de incentivo ao trabalho rural”, disse.

Conservação

A Paraíba conta com 16 unidades de conservação ambiental, administradas pela Superintendência de Administração do Meio Ambiente (Sudema). Dessas, sete englobam áreas de Mata Atlântica.

Esses espaços estão divididos em duas categorias:

  • De proteção integral, em que os recursos podem ser utilizados apenas de modo indireto, como para contemplação, turismo ecológico e pesquisa;
  • De uso sustentável, em que os recursos podem ser utilizados de forma direta, mas moderadamente.

Essas áreas foram estabelecidas para garantir a preservação mínima do ecossistema, como explicou a coordenadora de estudos ambientais da Sudema, Christina Vasconcelos.

“Sem as unidades, poderia haver perda de flora e fauna, que não conseguiriam ser restituídas, levando à extinção de espécies, o que afetaria a população como um todo, de inúmeras esferas, não só ambientais, pois tudo está interligado”, afirmou.

A capital paraibana tem o maior resquício de Mata Atlântica em espaço urbano do estado, o Parque Estadual das Trilhas, com 578,55 ha. Além disso, João Pessoa conta com a Mata do Buraquinho, com 512,24 hectares, onde está situado o Jardim Botânico Benjamin Maranhão. Em Bayeux, na Região Metropolitana da cidade, está localizado o Parque Estadual da Mata do Xexém, com 182 ha.

No Litoral Norte, em Mamanguape, há a Estação Ecológica Pau Brasil, com 82 hectares, enquanto no Litoral Sul, distribuída entre os municípios de Alhandra, Pitimbu e do Conde, está a Área de Preservação Ambiental de Tambaba, com 11,5 mil hectares.

No Brejo, na cidade de Bananeiras, há a Área de Relevante Interesse Ecológico da Mata Goiamunduba, formada por 67 hectares. O município divide a Área de Preservação Ambiental do Roncador, composta por 6.113 ha, com Pirpirituba.

Fonte:G1